Livro das Perguntas, de Pablo Neruda. Tempo de reflexão

Esquisito (no sentido espanhol mesmo: raro, invulgar, fino, precioso, requintado, difícil e raramente achado) é o que se pode dizer deste Livro das Perguntas, de Pablo Neruda.

Refinado e ao mesmo tempo com um frescor dos poemas da adolescência – no bom sentido, é claro.

Quer dizer, esses são dos raros poemas que aliam duas vertentes difíceis de se tocarem: maturidade, domínio de linguagem e segurança absoluta, mas também com uma simplicidade que só o grande poeta chega a ter quando alcança esta mesma maturidade (que consigo traz todo o resto de que se falou antes).

Insolitamente há neste livro uma nota nítida e constante de humor, encontrada aqui e ali na obra de Neruda mas não com tanta intensidade como neste Livro das perguntas. Junto ao humor, o eterno humanismo do poeta, já tão decantado e tão nosso conhecido, presente sempre e que dirá muito ao leitor.

O Prêmio Nobel Pablo Neruda deixou, ao morrer, oito livros inéditos de poesia, escritos quase simultaneamente: O coração amarelo, Livro das perguntas, Elegia, A rosa separada, Jardim de inverno, 2.000, Últimos poemas e Defeitos escolhidos.

Livro das Perguntas - Pablo NerudaLivro das Perguntas constitui uma experiência única no panorama de todas as obras do poeta. Composto de 74 poemas curtos, sem título, é imbuído de um finíssimo humor metafísico que se aproxima da filosofia oriental.

Neruda preocupa-se em propor incessantes questões – sobre animais, sobre ele próprio, sobre o transcorrer da vida e o significado da morte – e convida o leitor a respondê-las ou, pelo menos, a refletir sobre elas. Isso sem abrir mão da sua translúcida musicalidade e do seu magistral domínio da linguagem

Estas duas vertentes, me parece, nos reportam à poesia oriental com sua aparente simplicidade mas que nos leva a profundezas inimagináveis. Algo
assim como um quadro de Paul Klee: o máximo de requinte numa enganosa ingenuidade.

Como se criança e adulto estivessem indissoluvelmente presentes e ligados ao mesmo tempo e com igual persistência nesta poesia tão bela, tão límpida, tão apaixonante. PabloNeruda (1904-1973) é um dos maiores poetas da língua espanhola em nosso século, Prêmio Nobel de literatura em 1971, glória do Chile e da poesia universal.

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