Você tem que explicar algo à pessoa com quem você está falando e depois, quando a escuta na boca do interlocutor, você logo tem um estalo: “ah! eu sabia!” ou “ah! eu já tinha aprendido isso!”
Pois bem, você já parou para pensar em porque nos esquecemos das palavras que já aprendemos?
Tenha em mente que aprender uma palavra nova pressupõe:
1. Reconhecê-la e recordá-la;
2. Relacioná-la com o objeto ou conceito correspondente;
3. Pronunciá-la e escrevê-la corretamente;
4. Usá-la com propriedade, levando em consideração suas conotações e possíveis associações.
No entanto, não é imprescindível conhecer todas as palavras e devorar dicionários para demonstrar sua competência comunicativa. Essa competência se adquire num processo contínuo, que requer exposições e interações frequentes à língua que se está aprendendo, seja através de leituras, de músicas, de filmes, de conversações, etc.
Ainda assim, você poderá desenvolver sua aprendizagem de modo mais eficaz, se refletir sobre a maneira pela qual você aprende. Para isso, em primeiro lugar, sugiro que crie você uma lista personalizada de palavras – as apalavras que lhe parecem mais úteis ou que o atraem mais. Em segundo lugar, mantenha essa lista num lugar visível.
Veja um possível exemplo:
Para descobrir o significado de uma ou mais palavras, o que normalmente fazemos?
• Se conhecemos o tema, procuramos imaginar o que diz;
• Tentamos adivinhar o significado pelo contexto;
• Se não entendemos uma palavra, continuamos lendo o texto porque estamos entendendo o resto;
• Usamos o dicionário;
• Perguntamos ao professor ou a um colega;
• Comparamos a palavra com a língua portuguesa;
• Organizamos uma lista de palavras desconhecidas, uma espécie de glossário;
• Ficamos pensando onde já ouvimos ou vimos a palavra antes.
É isso! Você deve explorar essas ferramentas: a associação por ideias, o contexto e a forma das palavras; elas constituem um ótimo recurso linguístico e extralinguístico para compreender e descobrir o significado das palavras.
O texto que segue nos permite aprender muito sobre o vocabulário que envolve a saúde, as doenças e as partes do corpo em espanhol.
Já no primeiro parágrafo o leitor, ainda que involuntariamente, fará uso da comparação linguística (português X espanhol) ao deparar-se com “sintió um fuerte dolor (dor) en el pecho (peito.); da associação de famílias formadas pelas palavras (hemiplejía, triquinosis, peritonitis, difteria, meningitis), (rostro, mano, cabeza); do contexto e suas conexões (riñón izquierdo, cálculo, infusiones de quebra pedra).
Faça um teste. Analise o texto abaixo e divirta-se enquanto lê e aprende um pouco mais de espanhol.
Estornudo
Cuando Agustín sintió un fuerte dolor en el pecho, anunció de inmediato a sus familiares: “Esto es un infarto”. Sin embargo, el médico diagnosticó aerofagia. El dolor se aplacó con una cocacola y el regüeldo correspondiente.
Fue en esa ocasión que Agustín advirtió por primera vez que la forma más eficaz de exorcizar las dolencias graves era, lisa y llanamente, nombrarlas. Sólo así, agitando su nombre como la cruz ante el demonio, se conseguía que las enfermedades huyeran despavoridas.
Un año después, Agustín tuvo una intensa punzada en el riñón izquierdo, y, ni corto ni perezoso, se autodiagnosticó: “cáncer”. Pero era un cálculo, sonoramente expulsado días más tarde, tras varias infusiones de quebra pedra.
Pasados ocho meses el ramalazo fue en el vientre, y , como era previsible, Agustín no vaciló en augurarse: “oclusión intestinal”. Era tan sólo una indigestión, provocada por una consistente y gravosa paella.
Y así fue ocurriendo, en sucesivas ocasiones, con presuntos síntomas de hemiplejía, triquinosis, peritonitis, difteria, síndrome de inmunodeficiencia adquirida, meningitis, etcétera. En todos los casos, el mero hecho de nombrar la anunciada dolencia tuvo el buscado efecto de exorcismo.
No obstante, una noche invernal en que Agustín celebraba con sus amigos en un restaurante céntrico sus bodas de plata con la Enseñanza (olvidé consignar que era un destacado profesor de historia), alguien abrió inadvertidamente una ventana, se produjo una fuerte corriente de aire y Agustín estornudó compulsiva y estentóreamente.
Su rostro pareció congestionarse, quiso echar mano a su pañuelo e intentó decir algo, pero de pronto su cabeza se inclinó hacia delante. Para el estupor de los presentes, allí quedó Agustín, muerto de toda mortandad. Y ello porque no tuvo tiempo de nombrar, exorcizándolo, su estornudo terminal.
(Benedetti, Mario. Cuentos Completos. In: Despistes y franquezas. Buenos Aires, Ed. Seix Barral, 1994.)